Eu nunca desistiria de você, sabes disso. Te salvaria das profundezas mais infinitas do desespero, dos infernos mais fodidos, não me olha com esses olhos de quem não iria até a esquina por mim que, assim, me dá uma vontade súbita de suicídio. O diabo é que você adora o caos, a lama. Eu, nem tanto. Tive que acostumar-me na marra com alguns demônios e com a escrita sangrenta. Baby, só há dois cheiros invadindo o meu quarto, o primeiro é o odor envolvente da nicotina, o segundo é o meu predileto, seu cheiro que é, provavelmente, fruto da minha sórdida imaginação, pura miragem, holograma mais que perfeito. Em algumas vezes me atrevo a mergulhar em sua pupilas negras, quase sempre me afogo, são águas turvas e eu não tenho folego aos seus redemoinhos. Não sei nadar direito, meus braços são curtos e cansados, mas a coragem é grande, tão grande que beira a burrice.
As paredes observam todas as noites a minha insônia dolorida, e nessas noites de solidão são escritas cartas para um só destinatário: você, causador da minha cólera. Então elas choram comigo. Amor, eu não sei conviver com o caos. Não sei olhar pra ti e não sentir um puto nojo do seu caráter, do seu lirismo, logo em seguida me odeio por amar-te desfreadamente, apesar da angustia.
Não me ofereça a boca se não estás a fim de me beijar. Não brinca e não briga comigo. Estou lhe pedindo colo, abaixei a guarda e humildemente te peço colo, amor. Não vês o meu desespero? Colo e um pouquinho do braço. Braços tão fortes e viris, prontos para abraçarem o mundo, menos a mim. Me leve pra qualquer lugar, não quero ficar em casa - meu quarto está doente - os móveis, o teto, paredes e janelas, todos adoeceram com excesso de loucura, de você. Deixa eu dormir - só por essa noite - em sua toca de leão selvagem. Hoje a selva parece um abismo sem fim e eu só encontrei consolo ao lado da fera.
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